LAURA DE VISON
riqueza artística transformista
inusitada
criativa
maternal
provocadora
Norberto Chucri David
(1939-2007)
INÍCIO

DUBLAGEM(?)
"Laura utilizava-se do escracho, de uma ironia marcadamente gay
e carioca, para brincar com o público e cometer atos esdrúxulos como comer pedaços de carne crua em cena ou comer um ovo cozido que escondia no ânus."
"É de extrema importância rememorativa que os homossexuais brasileiros criem
uma historiografia das personalidades gays que marcaram época, pelo menos as personalidades culturais, daqueles que nos precederam e foram importantes para abrir caminhos
em relação aos direitos conquistados hoje em dia.
Nossa falta de memória com aqueles que nos precederam é impressionante! Poucos sabem, a nível de informação linguística, que muitas gírias utilizadas hoje em dia
pelos gays provêm do vocabulário do Dzi Croquettes. E Laura de Vison deve fazer parte
desta historiografia, onde, com certeza, teria um papel relevante na crítica social e na vida
cultural carioca."
"Em seus shows, utiliza-se de uma maquiagem de base branca, marcava a área dos olhos com purpurina, abusava dos batons vermelhos e do lápis preto nos lábios, aumentava as bordas da boca com o lápis, e utilizava-se de roupas extravagantemente femininas. Durante o dia, como professor de história, usava sempre um terno de
cor escura e tentava “retirar” os gestos e a voz femininos."
Somente Laura de Vison conseguia juntar todas as tribos
gays cariocas em um mesmo lugar: no Cabaré Boêmio.
Ela mostrava que os gays estavam ali, existiam, participavam da vida da sociedade e exigiam ser vistos e respeitados.
Os norte-americanos que a via a comparavam a Divine, a grande estrela do filme “Pink Flamingos”, de 1972, do diretor John Waters.
Harris Glenn Milstead foi um ator, performer e cantor norte-americano, mais conhecido pelo personagem Divine.
1945 - 1988
Laura funda, na vida artística brasileira, a figura do travesti-artista
Rose Bombom
Suzy Brasil
Rose Bombom e Suzy Brasil no espetáculo "Ao sair deixe suas lágrimas." (2010)
Silvetty Montilla
Marcia Pantera
Lorna Washington
"Seu corpo era seu material principal de seu fazer artístico, pois ele era pintado, mostrado e abusado de várias maneiras. Podia-se notar que pessoas da plateia se enojavam com alguns atos de Laura. Havia sempre algo de extremamente provocador nas performances de Laura, algo que passava muito distante dos limites do aceitável como “belo” em uma atuação performática de um travesti belamente vestido e fazendo mímica de uma canção conhecida e icônica.
Laura buscava incitar os ânimos dos “operários” (lembremos que seu público era basicamente de homossexuais trabalhadores e suburbanos), estimular os sentidos e provocar o público à uma desordem e frenesi críticos. Desafiando jocosamente as normas
socialmente aceitas sobre sexualidade e gênero, ela promovia um pensar sobre estes pontos. Devemos lembrar que o papel do artista em momentos críticos de censura é produzir arte ocasionando possibilidades de pensamento e de avaliação sobre a situação social de repressão existente (em todos os sentidos)."
"Os artistas, assim como Laura de Vison, que se utilizavam do transformismo para
compor um personagem e criar um tipo de arte performática própria, também deram origem a uma nova forma de arte chamada em inglês de Transvestism Art. Esta nova forma de arte trabalha, basicamente, com uma documentação artística das performances de transformistas e enfatiza os modos como os gêneros são colocados socialmente para nós, questionando as estandardizações de gênero socialmente impostas.
Laura tinha seios de silicone e era uma travesti, mas que durante o dia, em seu
trabalho como professor, se comportava como um homem qualquer, vestindo um terno para dar aulas. A estranha vida pessoal de Laura de Vison não se enquadrava nos papéis de gênero definidos socialmente."
"Laura nos deu um exemplo de produção simbólica, enquanto performance, desenvolvida para o segmento cultural gay no Brasil, revelando-nos vários elementos significantes que mostram as formas de pensar e viver da população homossexual
brasileira e que questionam valores e costumes culturalmente machistas. Seus shows performáticos de transformismo foram uma verdadeira forma de arte, de Transvestism Art, de arte teatral kitsch, de arte da maquiagem, entre outras formas de arte. Podemos dizer que Laura encarou sua presença no mundo como um acontecimento único, como uma eterna performance artística, sempre jogando alegremente com este mundo real e transformando-o."
De Abusadas a bichas velhas: Memória, sociabllidade e amizade no período pré-movimento homossexual brasileiro